RÚSSIA DECLARA “GUERRA SANTA” AO ESTADO ISLÂMICO
ENQUANTO ISSO, OBAMA
FICA DO LADO DOS “COMBATENTES DA LIBERDADE” QUE ASSASSINAM CRISTÃOS
Raymond
Ibrahim
A Igreja Cristã Ortodoxa, que
mantém um papel importante numa Rússia insurgente, descreve como “guerra santa”
a luta de seu governo contra o Estado Islâmico e outros grupos islâmicos de
oposição na Síria.
|
Putin e líderes da Igreja Ortodoxa Russa
|
De acordo com Vsevolod Chaplin,
diretor do Departamento de Assuntos Públicos da Igreja Ortodoxa,
A luta contra o
terrorismo é uma batalha santa e hoje nosso país é talvez a força mais ativa no
mundo combatendo-o. A Federação Russa fez a decisão responsável de usar as
forças armadas para defender o povo da Síria dos sofrimentos causados pela
arbitrariedade de terroristas. Os cristãos estão sofrendo na região com o rapto
de clérigos e a destruição de igrejas. Os muçulmanos não estão sofrendo menos.
Esse não é algum “truque” novo
para justificar uma intervenção na Síria. Durante anos, os líderes ortodoxos da
Rússia vêm expressando suas preocupações pelos cristãos perseguidos. Já em
fevereiro de 2012, Vladimir Putin se reuniu com representantes da Igreja
Ortodoxa Russa. Eles descreveram para ele o tratamento horrível que os cristãos
estão sofrendo no mundo inteiro, principalmente no mundo muçulmano:
O diretor de relações
eclesiásticas externas, o metropolita Illarion, disse que a cada cinco minutos
um cristão é morto por sua fé em alguma parte do mundo, especificando que ele
estava falando sobre tais países como Iraque, Egito, Paquistão e Índia. O clérigo
pediu a Putin que fizesse da proteção aos cristãos uma das direções de política
externa no futuro.
“É assim que vai ser,
não tenha dúvida,” Putin respondeu.
Compare e contraste isso com o
presidente americano Obama, que nega que existe uma conexão entre ensinos
islâmicos e violência; cujas políticas habitualmente dão poder aos islamistas
que perseguem cristãos, que impede os representantes cristãos de darem
testemunho contra seus opressores; e que até expulsa dos EUA refugiados
cristãos de volta aos leões, enquanto aceita dezenas de milhares de imigrantes
muçulmanos.
O patriarca russo Cirilo chegou
uma vez a escrever uma carta comovente para Obama, implorando ao presidente
americano que parasse de dar poder aos muçulmanos de guerra santa que perseguem
os cristãos. O patriarca disse: “Estou profundamente convencido de que os
países que pertencem à civilização cristã têm uma responsabilidade especial
pelo destino dos cristãos no Oriente Médio.” Essa declaração só deve ter
garantido que a carta fosse jogada na lata de lixo da Casa Branca.
É claro que a preocupação da
Rússia pelas minorias cristãs será tratada com cinismo e desprezo pelos maiores
líderes pretenciosos dos dois grandes partidos dos EUA. Embora tais desprezos
tivessem repercussão entre os americanos no passado, estão se tornando cada vez
menos persuasivos aos que estão prestando atenção, conforme explicado no artigo
“Putin’s Crusade—Is Russia the Last
Defender of the Christian Faith?” (A Cruzada de Putin: Será que a
Rússia é a Última Defensora da Fé Cristã?)
Para nós que
crescemos nos EUA ouvindo que os ateus comunistas ímpios da Rússia eram nossos
inimigos, a ideia de que os EUA poderiam abandonar Deus e o Cristianismo
enquanto a Rússia abraça o Cristianismo poderia no passado ser difícil de
aceitar. Mas no ano de 2015, os sinais diários nos EUA mostram um desprezo
crescente para com o Cristianismo, sob o primeiro presidente cujas próprias
afirmações de ser ele cristão são questionáveis. A tendência oposta exata está
acontecendo com a Rússia e seus líderes — uma volta às suas raízes cristãs.
Aliás, um número crescente de
americanos que não têm nenhum amor especial pela Rússia ou pelo Cristianismo
ortodoxo — desde o magnata bilionário Donald Trump até os evangélicos — estão
sendo conquistados pelas opiniões francas de Putin.
Como é que eles não se
convenceriam? Depois de um de seus discursos louvando a herança cristã do
Ocidente — algo que poucos políticos americanos ousam fazer — Putin concluiu
com algo que com certeza deve provocar repercussão entre milhões de americanos
conservadores: “Precisamos proteger a Rússia daquilo que destruiu a sociedade
americana” — uma referência ao liberalismo anticristão e a libertinagem que
perderam o controle no Ocidente.
Até mesmo a resposta do Rev.
Franklin Graham à intervenção militar russa na Síria parece inusitadamente
positiva, vindo do próprio presidente da Associação Evangelística Billy Graham:
“O que a Rússia está fazendo poderá salvar a vida de cristãos no Oriente Médio…
Entendam que o governo sírio… tem protegido os cristãos, eles têm protegido as
minorias contra os islamistas.”
Se os islâmicos de guerra santa
(“rebeldes”) apoiados pelos EUA conseguirem derrubar o governo da Síria, Graham
prediz corretamente que haverá “um banho de sangue de cristãos”:
Haveria dezenas de
milhares de cristãos assassinados e massacrados e, além disso, haveria centenas
de milhares de mais refugiados fugindo para a Europa. Portanto, em relação à
Rússia de agora, eu vejo sua presença como ajudando a salvar a vida dos
cristãos.
Evidentemente, é um fato
comprovado que os “rebeldes bons — chamados de moderados — estão perseguindo os
cristãos tanto quanto o Estado Islâmico persegue os cristãos.
Quando lhe perguntaram o motivo
por que o governo de Obama está ignorando a perseguição aos cristãos, Graham,
ecoando Putin, disse que Obama está mais envolvido em promover a agenda
homossexual do que ele está em proteger as minorias cristãs:
Não estou aqui para
criticar os gays e as lésbicas e eles certamente têm direitos e compreendo tudo
isso, mas este governo tem focado mais nessa agenda do que qualquer outra
coisa. Como consequência, o Oriente Médio está ardendo em chamas e há mais
refugiados hoje se deslocando do que na 2ª Guerra Mundial. Dava para ter
impedido isso.
Aliás, no final, não são as
afirmações dos russos de que eles estão travando uma guerra santa para salvar
os cristãos da guerra santa islâmica que merecem tratamento de cinismo e
desprezo, mas todas as afirmações que o governo de Obama faz para justificar
seu apoio à oposição na Síria, quando a maior parte desses opositores nem síria
é.
Não existe nenhum “rebelde
moderado.” Todos eles estão ansiosos e empenhados numa guerra islâmica para
estabelecer a lei islâmica, que é o oposto exato de tudo o que o Ocidente
costumava valorizar. Se o “ditador diabólico” Assad mata pessoas no contexto da
guerra, os “rebeldes” torturam, mutilam, escravizam, estupram, degolam e
crucificam pessoas unicamente porque elas são cristãs.
Como é que dá para preferir os
rebeldes em vez de Assad?
E, com base em precedente
comprovado — olhe para o Iraque e para a Líbia, os outros países que a
liderança dos EUA ajudou a “libertar” — podemos entender que o resultado de
derrubar o homem forte secular da Síria será mais atrocidades, mais perseguição
aos cristãos, mas igrejas destruídas por bombas, mais locais arqueológicos
destruídos e mais terrorismo, inclusive no Ocidente, apesar das garantias
absurdas de John Kerry de que a Síria será mais “pluralista” depois da derrubada
de Assad.
Portanto, mais uma vez, os EUA se
acham do lado dos terroristas islâmicos, que sempre reservam seu melhor para os
EUA. Os sauditas — a cabeça da Cobra de Guerra Santa Islâmica diante da qual os
presidentes dos EUA estão acostumados a beijar e se prostrar — já estão
gritando em protesto e exigindo uma guerra santa islâmica maior na Síria em
resposta à atitude corajosa da Rússia de fazer uma guerra santa cristã.
Obama e a grande mídia americana
atenderão aos sauditas, inclusive por meio de uma campanha de propaganda maior?
Grandes clérigos islâmicos como Yusuf Qaradawi — que já apareceu ao vivo na
televisão americana pedindo que os EUA façam uma guerra santa islâmica em prol
de Alá contra Assad — parecem ter tal opinião. Os Estados Unidos já deram as
boas-vindas à nova piada cruel de que a Arábia Saudita — um dos piores
violadores de direitos humanos do mundo — presidirá uma comissão de direitos
humanos da ONU.
No final e colocando imperativos
políticos de lado, não há como negar a realidade: o que os Estados Unidos e
seus aliados ocidentais fizeram e estão fazendo no Oriente Médio — culminando
com a ascensão de um califado sanguinário e as piores atrocidades do século XXI
— é tão ímpio quanto é santa a determinação da Rússia de lutar.
Raymond Ibrahim é membro do Centro de Liberdade David
Horowitz.
Leitura recomendada:
Artigo de Franklin Graham:
Outros artigos de Raymond Ibrahim: