OINOS
Esta palavra aparece 33 vezes em 25
versículos (em alguns versículos ocorre repetidamente), e é traduzida “vinho”
em todas as ocorrências pela Revista e Atualizada. Que vinho [oinos] contém
álcool fica claro na seguinte passagem: “E não vos embriagueis com vinho, no qual
há dissolução, mas enchei-vos do Espírito” (Ef 5:18). A Septuaginta usa oinos
para traduzir os hebraicos yayin, chemer, ieqev, sove, asis, shekar, shemer
e tirosh, indistintamente.
Quanto ao vinho usado na última ceia,
não é dito de que tipo era, visto que a palavra vinho não ocorre nesse
contexto. De qualquer forma, as igrejas apostólicas celebravam a ceia com vinho
inebriante, pois é dito que “ao comerdes, cada um toma, antecipadamente, a sua própria ceia; e há
quem tenha fome, ao passo que há também quem se embriague” 1Co 11:21. Note
que em suas repreensões à forma desordenada na qual a igreja corintiana
celebrava a ceia do Senhor, Paulo não inclui o tipo de vinho utilizado.
Interessante notar, também, que Jesus
foi acusado de bebedor de vinhos [oinopotes]: “Veio o Filho do Homem, comendo e
bebendo, e dizeis: Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e
pecadores!” (Lc 7:34). Em uma passagem da primeira epístola de
Pedro, bebedices é tradução de um termo derivado de oinos [oinophlugia]:
“Porque
basta o tempo decorrido para terdes executado a vontade dos gentios, tendo
andado em dissoluções, concupiscências, borracheiras, orgias, bebedices e em
detestáveis idolatrias” 1 Pe 4:3
A conclusão é de que o termo mais
comumente traduzido vinho no Novo Testamento refere-se a uma bebida capaz de
causar embriaguez se consumida em grande quantidade. É possível que o vinho
feito por Jesus em Caná e o utilizado na última ceia fossem do mesmo tipo
consumido comumente pelos judeus de seus dias, que bebido puro e em grande
quantidade era embriagante. No caso da ceia em Corinto, é-nos permitido
concluir que a mesma continha álcool, pois ninguém se embriaga com suco de uva.
GLEUKOS
Em Atos 2:13 a Revista e Corrigida
traduz gleukos como mosto, um suco doce de uva espremida: “Outros, porém,
zombando, diziam: Estão embriagados!” (At 2:13.) Tecnicamente, mosto é o
vinho ainda não totalmente fermentado. De qualquer forma, deveria ser
embriagante, visto que a Revista e Atualizada traduz “cheios de mosto” como
“embriagados”. A própria expressão dos ouvintes requeria que eles estivessem
alterados.
OXOS
Outra palavra traduzida por vinho é
oxos: “deram-lhe
a beber vinho com fel; mas ele, provando-o, não o quis beber” (Mt 27:34). Era
uma mistura de vinho azedo ou vinagre e água que os soldados romanos estavam
acostumados a beber. De fato, a palavra só ocorre nos Evangelhos e somente no
episódio da crucificação de Jesus (Mt 27:34, 48; Mc 15:36; Lc 23:36; Jo
19:29-30), sendo traduzida mais comumente como vinagre. Logo, este seguramente
não era o vinho utilizado na última ceia na ceia do Senhor da igreja primitiva
e nem mesmo o vinho consumido normalmente pelos judeus nos dias de Jesus.
SIKERA
É uma palavra traduzida como bebida
forte na única vez que ocorre: “Pois ele será grande diante do Senhor,
não beberá vinho nem bebida forte e será cheio do Espírito Santo, já do ventre
materno”
(Lc 1:15). Não era vinho, mas uma bebida forte e intoxicante. Era um produto artificial,
feito de uma mistura de ingredientes doces, derivados de grãos ou legumes, ou
do suco de frutas (tâmara), ou de uma decocção do mel.
METHE
A palavra beberrão, bêbado,
bebedices, etc. deriva de methe que significa embriaguez bebedeira,
intoxicação: “Mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que,
dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou
beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda comais” (1Co 5:11. Ver
ainda 1Co 6:10). Methe e seus derivados estão associados ao consumo
excessivo de bebidas. E este excesso é claramente proibido nas Escrituras, como
por exemplo, Ef 5:18 onde a proibição não é quanto ao consumo de vinho [oinos],
mas à embriaguez [methusko], pois como demonstrado acima, Jesus bebia vinho (Lc
7:34, citado acima), mas o irmão beberrão deveria ser evitado (1Co 5:11, citado
acima). Não há uma proibição do tipo “não beberás vinho”. Parece que o
ensino bíblico é mais no sentido da moderação. Por exemplo, nas descrições dos
requisitos para os oficiais da igreja, a proibição é quanto ao excesso: “É necessário,
portanto, que o bispo seja... não dado ao vinho” (1Tm 3:2-3), “semelhantemente,
quanto a diáconos, é necessário que sejam... não inclinados a muito vinho” (1Tm 3:8) e “quanto às mulheres
idosas, semelhantemente, que sejam... não escravizadas a muito vinho” (Tt 2:3).
A proibição geral é quanto ao
embriagar-se, não quanto ao consumo em si, feito com moderação. É neste sentido
que temos advertências do tipo “não vos embriagueis com vinho” (Ef 5:18), “acautelai-vos por vós
mesmos, para que nunca vos suceda que o vosso coração fique sobrecarregado com
as conseqüências da... embriaguez” (Lc 21:34), “Andemos dignamente...
não em orgias e bebedices” (Rm 13:13), pois “não herdarão o reino de Deus os que tais
coisas praticam” (Gl 5:21).
Ao lado disso, há a recomendação do
experiente Paulo ao jovem Timóteo para que este bebesse um pouco de vinho,
devido a seus problemas de saúde. “Não continues a beber somente água; usa
um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas freqüentes
enfermidades” (1Tm 5:23) É interessante aqui observar duas
coisas, a quantidade e a finalidade. Era para tomar “um pouco” de vinho e “por
causa” de seus problemas gástricos, ou seja, com finalidade terapêutica.
Concluindo, se alguém me perguntar o
que eu acho sobre o crente beber com moderação, direi que o mesmo deve evitar,
pelas razões que expressei na introdução. Mas se alguém me perguntar se a
Bíblia proíbe ao crente beber de forma moderada, para ficar em paz com minha
consciência, direi que não. Pois de fato ela não o faz. Ela proíbe a
embriaguez, mas não o consumo moderado.
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Soli Deo Gloria
Márcio Melânia