segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

A FACE OCULTA DO ADULTÉRIO

Assembleia de Deus - Ministério Estudando a Palavra

Departamento de Educação Cristã


Tema:

A FACE OCULTA DO ADULTÉRIO

Texto Bíblico Básico: 2 Samuel 11.2,4-11
Texto Áureo: Hb 13.4


Palavra Introdutória: - Várias pesquisas realizadas no Brasil indicam que a grande maioria dos homens e 50 a 60% das mulheres têm praticado ou praticam o adultério ou, como se diz na linguagem mais em uso, “transam” com pessoas que não são sua esposa ou seu marido. Com a ênfase dada ao sexo na TV, no cinema, na literatura, e até nas instituições de ensino, chegando ao extremo da obsessão, não é de se admirar que o homem secular, sem a convicção espiritual e os princípios da Palavra de Deus, caia nesse pecado.

O crente em Cristo, porém, entra nele aos pouquinhos. Isso porque não observa a sinalização que o adverte do perigo. Faz vista grossa a esses sinais porque, embora não deseje precipitar-se no abismo da desgraça da imoralidade, quer sentir pelo menos um pouco a gostosura dos seus prazeres. Assim, avançando sinal após sinal, deixa a vida pegar embalo no caminho errado até ao ponto de não conseguir mais fazer a manobra de frear para evitar o desastre. Diz, então, que “caiu no pecado”, quando este, de fato, há tempo já estava no seu caminho.

"Mas, por causa da prostituição, cada um tenha a sua própria mulher, e cada uma tenha o seu próprio marido. O marido pague à mulher a devida benevolência, e da mesma sorte a mulher ao marido. A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no o marido; e também da mesma maneira o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no a mulher. Não vos priveis um ao outro, senão por consentimento mútuo por algum tempo, para vos aplicardes ao jejum e à oração; e depois ajuntai-vos outra vez, para que Satanás não vos tente pela vossa incontinência" (1 Co. 7:2-5).


Objetivos:

Saber   - que Davi transgrediu a aliança divina, vindo a destruir não apenas um casamento, mas também uma vida humana inocente.

Entender  - que o adultero, voluntáriamente, busca corromper aquilo que Deus criou para ser santo e intocado: a intimidade entre um homem e uma mulher.

Compreender  - que o Altíssimo perdoa a todos que verdadeiramente se arrependem; contudo, o arrependimento não promove a suspensão das consequências daquilo que o homem faz.

I.          DAVI, URIAS E BATE-SEBA

Nessa conhecida história do pecado de Davi com Bate-Seba, vemos o retrato de um déspota oriental que manipulou pessoas para realizar seus planos. Comete adultério e entra numa cadeia de transgressões até chegar ao homicídio de Urias, que não foi feito com suas próprias mãos mas foi planejado por ele. A palavra “adultério” vem da expressão latina “ad alterum torum” que significa “na cama do outro”, provém do latim adulterium, de adulter. A raiz hebraica também aponta para a palavra “apostatar”.  Davi já estava na meia idade, havia conquistado muito, era um rei bem sucedido em todos os seus feitos. A vida no topo traz seus riscos pois só tem como se cair que está no alto: “...Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia.”  (1Co 10.12). 

Vejamos a seguir algumas particularidades observadas no comportamento de Davi neste episódio:

1.1.  Dessensibilização

Deuteronomio 17, que determina os padrões para os reis hebreus, ordenava que deveriam abster-se de três coisas: 1º Adquirir muitos cavalos; 2º Tomar muitas esposas; 3º Acumular muita prata e ouro (vv.14-17).  São as sensualidades “legais”, as indulgências culturalmente aceitáveis, que nos levam a cair, pois Davi seguiu a cultura de seu tempo conforme 2 Samuel 5.13 “tomou Davi mais concubinas e mulheres de Jerusalém, depois que viera de Hebrom”. 

1.2. Negligência
        
Em 2 Samuel 11.1, temos o contexto em que Davi comete adultério com Bate-Seba:“…no tempo em que os reis costumam sair para a guerra […] Davi ficou em Jerusalém”. Tais palavras parecem uma crítica a atitude de Davi e apontam para as circunstâncias em que pecou. Ao que parece, Davi negligenciou as suas obrigações como rei de Israel. Ele deveria ter acompanhado seu exército, mas preferiu ficar em sua casa na ociosidade, a descansar e passear, enquanto seus homens estavam em batalha.

1.3. Relaxamento
        
O relaxamento com os rigores e a disciplina que tinham feito parte de sua vida ativa,  deixaram Davi vulnerável. Ele estava na meia idade, por volta dos cinquenta anos, e suas campanhas militares haviam tido tanto sucesso que não era mais necessário que fosse pessoalmente a guerra. O problema do relaxamento é que geralmente se estende para a vida moral e espiritual. É difícil manter uma disciplina interior quando se está relaxando deste modo.

1.4. Fixação
        
Davi passeava pelo terraço (2 Sm 11.1-3), e viu a formosa mulher tomando banho (v.2). Ela era jovem na flor da idade, nesse instante o olhar do rei ficou fixo, e em seguida, se tornou um olhar libidinoso.  Dietrich Bonhoeffer observa o momento em que a lascívia assume o controle: “Neste momento, Deus...perde a realidade...Satanás não nos enche com aversão a Deus, mas com o esquecimento de Deus”.


1.5. Insensatez e Imprudência
        
A ficar cego pela lascívia, Davi passou a agir como um insensato não se importanto que era uma mulher casada se apossando dela e satisfazendo o seu desejo (2Sm 11.4). “O caminho do insensato é reto aos seus próprios olhos...” (Pv 12.15a).

1.6. Tirania
        
O inesperado  aconteceu, Bate- Seba engravidou de Davi e enviou uma mesagem a Davi. Agora usando de seu poder como rei, começa cair cada vez mais, mergulhando na mentira e agindo com maquinações para esconder o seu pecado, como um tirano faz o que acha melhor. A solução encontrada pelo pelo rei foi trazer Urias da guerra, a fim de que ele se deitasse com Bate-Seba (2Sm 11.6,7). Davi não esperava  tanta fidelidade de Urias (2Sm 11.8-13). Por fim o sentencia a morte (2Sm 11.14,15).

1.7. Soberba
        
Quando a notícia da morte de Urias chegou  (2Sm 11.24), passado o tempo do luto, Davi casou-se com a viúva de seu fiel soldado  (2Sm 11.11,26,27). Aparentemente um ato de bondade para com a viúva, mas por  trás estava inquidade encoberta. Na sua soberba esqueceu que  não havia nada oculto aos olhos de Deus: “...pareceu mal aos olhos do Senhor”  (2Sm 11.27b).

Conforme o pastor R. Kent Hugues: “..., ele quebrou todos os Dez Mandamentos; os seis que se referem  a amar o próximo como a si mesmo  (do quinto ao décimo), os quatro primeiros, por desonrar a Deus.

                    Davi demonstrou desprezo pela Palavra de Deus  (2Sm 12.9);
                    Davi demonstrou desprezo pelo Senhor  (2Sm 12.10).

O Profeta Natã o confrontou a Davi com muita sabedoria  (2Sm 12.1-7), E através de Natã Deus revela a Davi as consequências terríveis que seu pecado traria a sua família e seu reino (2Sm 12.7-12).  Não havendo mais argumentos de Davi, restava-lhe apenas declarar “Eu pequei contra o SENHOR”  (2Sm 12.13).

II. CORAÇÃO: LUGAR DE ONDE PROCEDEM OS CASAMENTOS E OS ADULTÉRIOS

Nosso Mestre e Senhor fez-nos compreender que os adultérios procedem do coração (Mt 15.19). Todo adúltero, voluntáriamente, busca corromper aquilo que Deus criou para ser santo e intocado: a intimidade entre um homem e uma mulher  (Hb 13.4).

Consideremos os dados apresentados por algumas pesquisas, que pretendem mapear os fatores de atração entre os sexos e o índice de pessoas que buscam, voluntariamente, relacionar-se extraconjugalmente.

2.1. Fatores de Atração Entre os Sexos

Além de aspectos físicos e culturais observados pelas ciências sociais, consideram-se, nas análises auais, aspectos neurofisiológicos, dentre os quais destacamos flutuações hormonais, circuitos neuronais e substâncias bioquímicas.     Uma pesquisa realizada pela UFRJ, coordenada pela antropóloga Mirian Goldenberg – que ouviu 1300 homens e mulheres entre 20 e 50 anos, comprovou a seguinte teoria: “O que mais atrai você no sexo oposto?”, a resposta mais prevalente entre os homens foi “beleza” e, entre as mulheres, “inteligência”. Ao observamos as Escrituras conforme o registro do pecado de Davi com Bate-Seba, ambos eram possuidores de uma beleza excepcional (1Sm .16.12; 2Sm 11.2,3).  Tendo em vista que é natural a atração sexual, isso não quer dizer que devamos nos deixar dominar pelos apelos dos nossos sentidos e emoções (Tg 1.14). Um dos maiores exemplos é José que fugiu diante da mulher de Potifar (Gn 39.6-12). Devemos compreender que somos humanos e não “bichos”; somos racionais e podemos dominar os nossos desejos: “E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.”  (Gl 5.24).

Porque as pessoas traem?

Causas não-neuróticas:

Insatisfação sexual no casamento que pode levar à busca de compensação. A perda de atração pelo companheiro(a). O desejo sexual vai ficando reprimido e as fantaaias vão se multiplicando até levar ao adultério. A excessiva absorção no trabalho pode produzir no outro uma sensação de rejeição e abandono. O tédio, que vem da repetição, da rotina e que gera indiferença sexual e emocional. Extensos períodos de ausência. A pressão do estar longe de casa durante longos períodos de tempo pode ser esmagadora. Doenças físicas de vários tipos. Gestações sucessivas.

Causas neuróticas:

Os "mimados"-são aqueles que acreditam que precisam de tudo o que desejam. Encaram caprichos temporários como necessidades básicas. Os casos nunca correspondem sua expectativas, que são, aliás, irreais (ex: a síndrome do fim de semana perfeito, do sexo perfeito).

Os "narcisistas" - eles consideram-se irresistíveis, têm uma necessidade constante de reconhecimento e admiração, uma enorme preocupação consigo mesmos e uma total incapacidade de corresponder. Adultério para eles é uma experiência de auto-engrandecimento.

Os "os fujões" - são aquelas pessoas que estão fugindo não apenas de si mesmas, mas da própria vida.

Os "imaturos" -são os que através da infidelidade procuram afirmar, provar eternamente sua masculidade ou feminilidade. A vida transforna-se num teste contínuo de sedução. A mola propulsora desse comportamente é ansiedade.

Os "inseguros" - são pessoas que se autodesvalorizam, não se respeitam e não têm auto estima. Usam o adultério como fuga.

Os "vazios" - são os que sofrem de um grande vazio existencial e se recusam a dar um sentido para a própria vida. Estes vão tendo relacionamento promíscuos para encobrir a falta de nexo dentro de si mesmos.

Os "vingativos" - São os que traem tendo como motivação um sentimento de vingança.

A fidelidade conjugal dá segurança ao casamento e garante a bênção de Deus na vida do casal. Veja o a Palavra de Deus diz: "Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula; porque Deus julgará os impuros e adúlteros"(Hb. 13:4).
        
Na verdade, o adultério é a manifestação da necessiade de cura, libertação interior. Sigamos sempre o conselho das Escrituras: “Fugi da prostituição. Todo o pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo. ” (1Co 6.18).

2.2. Pesquisa realizada pelo site Ashley Madison

Uma recente pesquisa realizada pelo Ashley Madison, site para pessoas casadas que buscam casos extraconjugais, fez um levantamento sobre qual a afiliação religiosa adotada pelos seus usuários. A pesquisa, realizada nos Estados Unidos, revelou que a grande maioria das pessoas que buscam um relacionamento fora do casamento pelo site se identifica como cristãos. Os números revelados pela pesquisa mostram que cerca de 48% dos participantes se classificam como evangélicos ou protestantes, e cerca de 23% se identificam como católicos. Assim, a pesquisa mostra que a fé cristã é a mais comum entre pessoas que traem seus cônjuges. O estudo também revelou que 24% dos homens e 32% das mulheres que usam o serviço de encontros extraconjugais afirmam que oram regularmente. Quanto ao sétimo mandamento, apenas 18% dos homens e 11% das mulheres disseram considerar a traição como um pecado. . O fundador do site, Noel Biderman, afirmou que a pesquisa mostra que a religião pode ser “retirada da lista” de fatores que impedem a infidelidade.


III.          NA TRANSGRESSÃO, NÃO HÁ PAZ POSSÍVEL

3.1.  Arrependimento

A despeito dos pecados cometidos principalmente por Davi, e também por Bate-Seba, Deus os perdoou. O perdão foi declarado logo depois de Davi reconhecer sua culpa: “…disse Davi a Natã: Pequei contra o SENHOR. Disse Natã a Davi: Também o SENHOR te perdoou o teu pecado; não morrerás” (2Sm 12.13). Já foi demonstrado que Davi colheu consequências por causa de suas culpas. Isto quer dizer que receber perdão divino não implica na anulação das consequências das suas escolhas. No salmo 51, escrito por Davi quando o profeta Natã foi ter com ele, depois de haver ele possuído Bate-Seba, encontramos a confissão do rei de forma bastante detalhada, na qual reconhece suas culpas. Davi demonstra nesse salmo a certeza que tem de que Deus pôde perdoá-lo e restaurar sua vida, restituindo-lhe a alegria da salvação (Sl 51.12).

3.2. Restauração

Se por um lado, a história de Davi serve como alerta de como podemos cair em tremenda transgressão e ruína espiritual, por outro, por maior que seja a nossa culpa, mesmo que seja na proporção da culpa de Davi, ou até maior, aprendemos sobre a grandeza da ação misericordiosa de Deus. Na descrição do perdão divino concedido a Davi, podemos entender a profundidade das palavras do profeta Jeremias: “As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade” (Lm 3.22-23). O fato mais significativo relacionado ao nascimento de Salomão está em que dele descenderia Cristo Jesus. Isto é destacado por Mateus na genealogia que apresenta de Jesus: “Jessé gerou ao rei Davi; e o rei Davi, a Salomão, da que fora mulher de Urias” (Mt 1.6). Nota-se que Mateus, inspirado pelo Espírito Santo ao escrever sobre a genealogia de Cristo, não deixou de lembrar que Salomão era filho de Davi com a mulher que fora esposa de Urias. Apesar do pecado de Davi e Bate-Seba, a graça do Senhor tornou possível, por meio deles, o nascimento daquele de quem descenderia o Messias.

Conclusão:  - Deus reconhece o nosso desejo de intimidade, mas não aprova tal intimidade fora do casamento. Por causa da impureza, cada um tenha a sua própria esposa, e cada uma, o seu próprio marido” (1 Co 7.2). O conselho de Salomão ainda é válido: Bebe a água da tua própria cisterna e das correntes do teu poço... alegra-te com a mulher da tua mocidade... e embriaga-te sempre com as suas carícias... O que adultera com uma mulher está fora de si; só mesmo quem quer arruinar-se é que pratica tal coisa” (Pv 5.15,18-19; 6.32).


Que Deus nos abençoe.

  Professor, José Fábio