IGREJA. UMA REALIDADE VISÍVEL
IGREJA
UMA
REALIDADE VISÍVEL
Por Oséas de Lima Vieira
Introdução: A Igreja encaixa-se no plano geral de
Deus para unir todas as coisas em Jesus Cristo. É o povo que Deus
está formando e por meio do qual ele tem agido na história. Nesse sentido a
igreja tem raízes que retrocedem ao antigo testamento, antes mesmo da queda da
humanidade. Sua missão estende-se para além de toda a história remanescente e
para a eternidade.
Sua história é a dimensão
histórica da igreja.
Mas ela tem também uma dimensão
universal. Este mundo de espaço e tempo é realmente parte de um universo maior,
espiritual, no qual Deus Reina. A igreja é o corpo dado a Cristo o Salvador
vitorioso. Deus escolheu colocar a igreja com Cristo no próprio centro de seu
plano de reconciliar o mundo consigo.
A missão da Igreja, portanto, é
glorificar a Deus executando no mundo as obras do Reino que Jesus iniciou. Isso
lhe concede o serviço mais amplo de continuar o ministério que Jesus tinha de
“evangelizar aos pobres, apregoar liberdade aos cativos, dar vistas aos cegos,
por liberdade os oprimidos, e anunciar o ano aceitável do Senhor”.
O
QUE É SER IGREJA?
A Bíblia refere à igreja em uma
variedade de maneiras. Primeiro e principalmente, ela é o corpo de Cristo.
É a noiva de Cristo, o rebanho de Deus, o templo vivo do Espírito Santo de
Deus.
Praticamente todas as imagens
bíblicas da igreja sugerem um relacionamento essencial e vivo de amor entre
Jesus Cristo e ela.
A igreja é uma comunidade de adoração (Gr.
Latreia). Precisamos confirmar nossos compromissos com o culto
púbico e examinar nossa atitude com relação a ele, como sacerdote
neotestamentários é nosso privilégio e responsabilidade, ao nos reunirmos
toda semana, levar a Deus uma oferta de louvor (Hebreus 13.15) Por ele, pois, ofereçamos sempre a
Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome.
A adoração aparece frequentemente nas
escrituras, mas de maneira suprema nos salmos, o hinário da igreja judaica. O
novo testamento contém muitas expressões da prática da adoração (Mt.6.9; Mc
14:12At. 3:1 etc.)
A igreja é uma comunidade criada para
a comunhão em Cristo (Gr. Koinõnia), A comunhão entre as pessoas
e a glorificação de Deus pela igreja acham-se intimamente ligadas, “Portanto
acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo nos acolheu para a glória de
Deus”. Koinõnia significa essencialmente
participar em algo. A comunhão do novo testamento envolvia a prática
da hospitalidade (hebreus 13; 21pedro 4;9). A harmoniosa vida comunitária dos
primeiros cristãos constituiu a maior atração da fé para os pagãos da época.
A igreja tem certamente poucas coisas
de maior relevância imediata a oferecer ao mundo do que o segredo de um
relacionamento humano autêntico. O chamado para experimentar a ágape, portanto,
representa um dos desafios mais profundos feito por Cristo à sua igreja.
A igreja é uma comunidade de
serviço, (Gr.Diakonia) onde nos identificamos com o nosso
dom ou dons concedido pelo Espírito de Deus. A primeira igreja tinha o
serviço como mais um meio de dar glória a Deus (1 Pedro 2;12) De modo diferente
do mundo gentio, onde a proeminência se associava à autoridade e ao poder
coercitivo, Jesus ensinou que ser grande é prestar-se ao serviço humilde
(Mc 9:33-37, Lu 22:24-27). O serviço não é o caminho nem a condição
para a grandeza, como geralmente supomos; eles são, antes, a grandeza propriamente
dita. Por trás disso acha-se o próprio Jesus.
O ensino Bíblico sobre o ministério
da igreja (Diakonia) possui mais três aspectos.
Os dons do Espírito
Todas as principais passagens do
Novo Testamento que tratam deste tema afirmam que um dom ou dons do Espírito é
propriamente de todo homem ou mulher verdadeiramente regenerado (Rm 12:3,
1Co 12:7-11, Ef 4:7,16 1Pe 4:10) Cada membro tem uma função no todo. Todo
cristão é chamado para ministrar; ser um membro de Cristo é ser ministro de
Cristo (1co 12:7,11)
Ministério Especializado
Este é um tipo de dom do Espírito
(Gn14:18, Dt 18:15, Êx 3:16), Jesus aplicou este princípio chamando os doze
discípulos, e o novo testamento reflete mais tarde este mesmo padrão de nomear
anciãos (Presbyteroi) ou bispos (episkopoi),
diáconos (diakonoi) (At 14;23, 1Tm 3:1-3, Tt1:5) e os
evangelistas, pastores e mestres * Profetas e Apóstolos. (Ef 4:11)
Os vários tipos de ministérios não
implicam que a vida Cristã tenha dois níveis, correspondendo a líderes e o
povo. A distinção entre ministério especializado e leigo (Gr. Laos = povo) é
essencialmente funcional. Os que trabalham em tempo integral, qualquer que seja
o seu título, não estão acima dos outros, nem mais próximo de Deus, nem são
mais importantes do que os membros de sua igreja.
O ministério fora da
igreja
O serviço oferecido pela igreja é
dirigido primeiramente aos que fazem parte da irmandade da fé (Gl6:10). O
serviço de Jesus em seu sentido mais profundo foi oferecido em favor dos seus
inimigos (Rm 5:6-8). A igreja deve, pois, Glorificar a Deus sendo o sal e
a luz da sociedade (Mt 5:16) não simplesmente através da evangelização, mas
também pelo seu esforço em influenciar a sociedade mediante um estilo de vida
mais justo, mais puro, mais honesto e mais compassivo, um reflexo mais perfeito
do caráter de Deus e, portanto, que honra o seu nome.
A principal maneira de a igreja
cumprir esta responsabilidade, à parte de seu testemunho evangelístico direto,
é criar homens e mulheres de caráter cristão forte e robusto, cuja atuação
diária influencie as características e qualidade da sociedade. Além disso, há
ocasiões em que a igreja pode sentir a necessidade de agir como comunidade em
resposta às necessidades sociais.
A igreja é uma comunidade de
testemunho (Gr.Martyria), ser testemunha fiel e
eficaz de Cristo entre meus vizinhos, colegas de trabalho, de escola, ou onde
quer que o Senhor tenha me colocado.
O chamado para testemunhar é o centro
das instruções finais de Jesus aos apóstolos (At 1:8).
A tarefa de dar testemunho do
evangelho ao mundo inteiro recai sobre a igreja em cada geração. É algo que
jamais poderia ser relegada a um plano secundário.
A igreja é um organismo e não uma
instituição; ela é uma realidade viva e crescente. Uma igreja sadia, em
crescimento, será abençoada com conversões a Cristo e uma crescente semelhança
com cristo. A fim de promover o crescimento da igreja segundo a imagem divina
A IGREJA
COMO NÓS A VEMOS
A igreja como nós a vemos e
experimentamos pode ser pouco atraente seja no cenário eclesiástico, seja em
nossa comunidade cristã local. Teremos às vezes dificuldade em distinguir nela
qualquer semelhança com cristo.
Devemos, porém, resistir à tentação
de nos desesperarmos ou desiludirmos, com a igreja visível. Apesar de toda a
sua fraqueza presente, a igreja está destinada a tornar-se gloriosa e bela.
Precisamos às vezes olhar
deliberadamente para além das realidades imediatas e lembrar de sonhar com a
vinda da grande Igreja, o povo aperfeiçoado de Deus, sua noiva imaculada, que
será apresentada ao noivo celestial quando Ele vier.
Essa visão irá fortalecer nossa
decisão de investir tempo e recurso, de dirigir energias e orações e de
trabalhar através dos anos a fim de ajudar a transformar mais plenamente o
corpo de Cristo.
A ESFERA DE
ATUAÇÃO DA IGREJA
A missão da igreja consiste em percorrer
o mundo todo para pregar o evangelho a toda criatura (cf. Mc 16.15). Em Atos
1.8 Jesus especifica a missão global da igreja dizendo que ela deveria
testemunhar "...tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até
aos confins da terra". A expressão "tanto...como" de Atos 1.8 é
formada, no grego, pela partícula enclítica te mais a conjunção kai. Em grego
"tanto...como" equivale ao nosso adjetivo comparativo e sugere, em
Atos 1.8, simultaneidade de trabalho; isto é, Jesus não estava dizendo simplesmente
que a Sua igreja precisava escolher uma dessas áreas geográficas para trabalhar
ou que deveria começar por uma de cada vez. Pelo contrário, a ideia bíblica do
termo aqui é: atuar ao mesmo tempo em todos os lugares da terra.
Infelizmente, hoje em dia não são
poucos os crentes equivocados quanto à compreensão da ordem do Mestre. Quantas
vezes já não ouvimos indagações mais ou menos assim: "Por que mandar ou
sustentar missionários no estrangeiro se tem tanto o que fazer no
Brasil?". Como sabemos, a maioria dos que pensam assim não está preocupada
com a obra missionária nem mesmo no seu próprio país. Jesus ordena que o
trabalho missionário da igreja seja te...kai, isto é, temos que evangelizar lá
sem esquecer de cá e vice-versa.
Uma aplicação contextualizada das
regiões citadas por Jesus fica por conta da nossa imaginação, mas sem,
evidentemente, deturpar o texto bíblico. Jerusalém foi o berço dos
acontecimentos básicos do cristianismo. Boa parte do ministério de Jesus
ocorreu em Jerusalém.
Nela Jesus morreu, ressuscitou e
ordenou a evangelização do mundo. Nela Jesus prometeu o Espírito Santo e nela,
no dia de Pentecostes, a igreja cristã foi inaugurada 1 e habilitada para cumprir a Grande
Comissão. Para efeito de comparação e aplicação da ordem de Jesus, podemos
identificar Jerusalém com a cidade em que moramos. A Judéia, por sua vez, era a
província que tinha Jerusalém como capital. Supomos que a nossa Judéia seja o
estado onde estamos vivendo. Samaria era uma região mais afastada, situada ao
norte da Judéia. Poderíamos comparar Samaria ao nosso país? Os confins da terra
significam, naturalmente, que devemos ser testemunhas de Jesus para todos os
povos. Atualmente sabe-se que "os confins da terra" de Atos 1.8 é
mais que "universalidade concebida de forma geográfica". É geografia sim,
mas também é etnia. A missão da igreja contemporânea é mais do que missão
estrangeira, é missão transcultural que envolve, por exemplo, os índios do
Brasil.
NÓS
NA IGREJA
Uma vez que a igreja é o povo (laos)
de Deus compreende todas as pessoas de Deus em todas as nações, mesmo as que
agora cruzaram as fronteiras do espaço e do tempo e vivem na presença imediata
de Deus. Mas o povo deve ter uma expressão visível, local, em que as pessoas se
reúnem em uma comunidade. Nesse nível local a igreja é a comunidade do
Espírito Santo.
As
figuras bíblicas de o corpo de Cristo, noiva de Cristo, família, templo ou
videira
A Igreja são pessoas e não uma
estrutura como muitos teólogos céticos pensam, A igreja tem uma natureza
coletiva ou comunitária absolutamente essencial ao verdadeiro ser.
Não é simplesmente um grupo de
indivíduos isolados. Segundo Stanley2 (1999) a
igreja tem que ser visível, uma organização que abarca todos os batizados das
congregações locais, que inclui todos os crentes verdadeiros.
“Vista como povo de Deus” a igreja é
a realidade abrangente, mundial, coletiva da multidão de homens e mulheres que
através da história, foram reconciliados com Deus e uns com os outros em
Jesus Cristo. Deus tem-se movido na história para reunir um povo
peregrino.
O QUE A IGREJA
TEM E O QUE NÃO TEM PARA SER IGREJA
A igreja será apenas uma instituição
humana se não tiver a visão de Jesus Cristo para o contexto e a realidade
histórica na qual está inserida.
Falar dos objetivos da igreja em
contraposição as megatendências da pós-modernidade e o modismo quanto à quebra
de paradigmas que resultam na perda da identidade doutrinária, do mundanismo
que gera a mundanalidade na igreja pela relativização da ética
cristã, arrefecendo a autoridade da igreja em sua ação reformadora no mundo,
Efésios 3.10.
A igreja deve interagir na história,
não andar a reboque da historieta escrita nos livros desta geração corrompida e
perversa. Somos o povo do Deus que é Senhor da história e que se manifesta
através da história. A igreja é manifestação de Deus na história. Não podemos
nos contentar em causar impacto na história com os nossos escândalos ou com a
nossa inércia contemplativa enquanto o céu não vem. É imperativo fazermos
diferença no mundo, escrevendo a história da salvação na vida das pessoas e
para isto, é imperioso resgatarmos a relevância da igreja no contexto
sociocultural em que trilhamos a jornada da santificação.
Mas amados, a igreja só será
relevante para o mundo e para o Reino, fazendo verdadeira diferença neste mundo
com Agência reformadora de Deus, quando...
Estivermos preocupados com a vontade
do Mestre e não com a nossa própria vontade.
"Onde queres" – Théleis,
vontade ativa, soberana. A vontade decisiva e decisória de Deus onde não cabe
relativização ou negociata, apenas a submissão.
Os anseios e vontades humanas
desembocam sempre no hedonismo ou nas guerras cruentas e desumanas. Só à
vontade de Deus para a igreja é "boa, agradável e perfeita", Romanos
12.1.
Como Jesus, devemos admitir nossa
humanidade em sua plenitude, mas sempre orando: "não se faça a minha
vontade, mas a tua", Lucas 22.42.
O tempo da Deus é kairós, eterno,
infinito, e não kronos, limitado, mensurado e controlado
pelo homem, como se fossemos senhores do tempo.
Na dispensação da igreja, da graça
salvadora, o tempo é sempre presente, é hoje, e a pregação deve ser levada a
efeito "a tempo e fora de tempo", 2 Timóteo 4.2.
Vale ressaltar a expressão "o
Mestre diz".
Mestre, didáskalos, alguém
que ensina revestido de capacidade, honra e dignidade. Jesus, sendo Deus, é
Senhor do tempo e fala com autoridade quanto à concisão do tempo para a
pregação do evangelho. "Meu tempo está próximo", diz o Mestre.
A Igreja não pode desprezar a
pregação. Não sabemos quando o Mestre voltará, Mateus 25.13. Estar
preparados para adentrarmos com ele em sua glória implica em testemunho e
pregação incessantes.
Nossos cultos se tornarem verdadeira
celebração ao Cristo vivo, não à liturgia, à Denominação ou a Eclesiologia.
É autoritário buscarmos a consciência
de libertação, Páscoa, e de celebração, de festa, de alegria e satisfação em
nossos cultos, devido à presença do próprio Deus entre nós.
O texto não prevê sectarismo ou
uniformidade. Não induz ao radicalismo ou ao êxtase emocional espiritualista
esotericamente espiritualizado. Se quiser, o texto aponta para um
denominacionalismo desvairado e promotor de uma nefasta negligência ao que é
bíblico em defesa de um hediondo tradicionalismo histórico-denominacional.
A festa, a Páscoa, era um memorial da
libertação do Egito, da morte as mãos do opressor, no sangue da remissão, Êxodo
12.14-17. Da mesma forma, nossos cultos devem ser verdadeira celebração pela e
para salvação em Cristo. Uma festa alegre e vívida em gratidão pela
libertação do pecado que nos é outorgada por Cristo.
Devemos buscar a consciência de que o
Senhor está em seu trono de glória para receber de nós um culto “vivo, santo e
agradável”, Romano 12.1, resultado de mentes renovadas em Cristo no
entendimento dos mistérios da salvação, 1 Coríntios 2.14-16.
Qual a nossa reação diante da
expressão "um de vós me trairá". Somos assolados pela
consciência de pecado que desemboca no arrependimento ou permanecemos
insensíveis e nada nos impulsiona à santidade?
É assombroso que muitos crentes não
sintam o sabor amargo de pecado como sentiram Moisés, Jacó, Isaías, Jeremias,
Pedro, Paulo e muitos outros indicados no Texto Sagrado, insistindo nos passos
de Caim e na decisão diabólica tomada por Judas Iscariotes,
persistindo na traição.
Muitos, mesmo estando
diante de Jesus e sendo desafiados ao arrependimento, não conseguem olhar para
Jesus e identificá-lo com Senhor absoluto de todas as coisas, Kírios, admitindo-o
apenas como rabi, mestre da lei, o que não é uma
característica da personalidade de Jesus.
No culto verdadeiro Deus sempre
manifesta sua glória, Isaías 6.1-8, e se nos dispomos à perfeita adoração,
sempre somos levados à contrição e ao arrependimento, a fim de que dediquemos
nossas vidas em perfeito louvor, evidenciado na proclamação do evangelho de
nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Retirar-se do culto sem experimentar
restauração santificadora, permanecendo na inércia petrificada do comodismo, é
constituir-se em traidor.
Como igreja, se buscamos grande valor
para a sociedade, se pretendemos fazer a diferença já em nosso tempo,
profetizando um futuro melhor, não podemos permanecer aguilhoados ao pelourinho
do pecado e dissociados pelo preconceito que ressalta as idiossincrasias. Se
somos igreja, devemos vivenciar íntima comunhão, irmanados em Jesus
Cristo, Efésios 2.14-18 e 1 João 4.20. O sangue do pacto foi derramado
"para a remissão de pecados", para cobrir e apagar o escrito de culpa
que recaia sobre nós, Colossenses 2.14, para nos reconciliar com Deus, 2
Coríntios 5.18 e 19, fazendo-nos um só povo, Efésios 4.4 e conjugando-nos em só
coração, Atos 4.32 O sangue que "nos purifica de todo o pecado", a
partir do arrependimento e da confissão sincera diante de nosso Advogado e
único mediador, Jesus Cristo, l João 1.8, 2.2 e 1 Timóteo 2.5, nos impõe a
comunhão que afaga o coração e acarinha o aflito e o existencialmente
desesperançado. Pelo que, a igreja deve retirar-se do templo, após o culto
prestado, restaurado, perdoado, transbordando em amor e alegria e amalgamada no
sangue de Jesus Cristo.
Todo o nosso pecado e preconceito
devem ser abandonados aos pés da cruz de Cristo, o Cristo que "é tudo em
todos", Colossenses 3.11.
IGREJA VERDADEIRA
Onde podem ser encontradas hoje a igreja
verdadeira e quais os seus aspectos essenciais? Em primeiro lugar devemos
distinguir os vários significados da palavra igreja: todo o povo de Deus em
todos os séculos, o conjunto total dos eleitos. Os Reformadores falaram disto
como sendo a igreja invisível. A comunidade local dos cristãos,
reunidos visivelmente para adoração e ministério; este significado abrange a
vasta maioria das referências à igreja (ekklesia) do Novo Testamento. Todo o
povo de Deus no mundo, em determinada época, talvez melhor definida como a
igreja universa3 ! Esse sentido ocorre apenas
ocasionalmente no Novo Testamento (1 Co 10.32; Gl 1.13).
"A igreja dentro da igreja".
Notamos antes a distinção feita entre a edah (toda a congregação visível) e os
gahal (aqueles dentro dela que respondem ao chamado de Deus). Jesus ensinou que
o reino corresponde a este padrão: o joio está misturado com o trigo (Mt
13.24-30; 36-43). Dentro do grupo identificado com Cristo acha-se o povo de
Deus, a verdadeira igreja. Não existe, então, uma igreja pura; em meio a cada
igreja pode haver pessoas que não professaram a sua fé e outras cuja profissão
será desmascarada no último dia (Mt 7.21-23).
Admitindo-se assim que uma igreja pura
ou perfeita não é possível deste lado da glória, onde podemos descobrir o
verdadeiro povo de Deus visivelmente reunido? Tradicionalmente, são
reconhecidos quatro sinais da igreja autêntica.
UMA DAS
CARACTERÍSTICAS DA IGREJA É SER APOSTÓLICA, MAS EXISTE APOSTOLO HOJE?
APOSTÓLICA
O apóstolo é uma testemunha do ministério e da ressurreição de Jesus; é um arauto autorizado do evangelho (Lc 6.12s; At 1.21s; 1 Co 15.8-10). Os arautos tomam posição entre Jesus e todas as gerações subsequentes da fé cristã; nós só nos achegamos a ele por meio dos apóstolos e de seu testemunho sobre ele, incorporado no Novo Testamento. Neste sentido fundamental, toda a igreja é "edificada sobre o fundamento dos apóstolos" (Ef 2.20; cf. Mt 16.18; Ap 21.14). A apostolicidade da igreja encontra-se, portanto, no fato de ela conformar-se à fé apostólica "que uma vez por todas foi entregue aos santos" (Jd 3; cf. At 2.42). Os apóstolos ainda governam e organizam a igreja na medida em que esta permite que sua vida, seu entendimento e sua pregação sejam constantemente reformados pelos ensinos das Sagradas Escrituras. Desde que o apóstolo significa literalmente enviado, ((apostolos) ) não é de surpreende que o Novo Testamento refira-se ocasionalmente a outros apóstolos (Rm 16.7). Neste sentido geral, todos os que são hoje enviados pelo Senhor como evangelistas, pregadores, iniciadores de igrejas, etc. são no grego do Novo Testamento, apóstolos, enviados. Isto não subentende de forma alguma que eles tenham uma posição de autoridade especial, competindo com a do grupo original cujo governo continua através das escrituras apostólicas. Reivindicar o cargo apostólico em nossos dias é compreender erradamente o ensino bíblico e oferece na prática um desafio grave com respeito à autoridade e finalidade da revelação divina do Novo Testamento.
É igualmente errado entender a
apostolicidade como uma continuidade histórica do ministério, retrocedendo até
Cristo e seus apóstolos através de uma sucessão de bispos. Esta interpretação
não tem nenhum apoio bíblico. Toda noção da graça de Deus comunicada mediante
uma sucessão histórica de dignitários da igreja contraria o caráter da própria
graça, conforme os escritos bíblicos. Além disso, como garantia da verdade da
mensagem apostólica, a sucessão episcopal evidentemente falhou. Foi uma igreja
perfeitamente enquadrada nesta sucessão histórica que precisou da Reforma do
século dezesseis, para não mencionar outras reformas menores, como o
despertamento do século dezoito com Whitefield e os Wesleys.
O catolicismo romano estende esta
interpretação de "apostólico" para incluir a reivindicação de que o
Bispo de Roma é o sucessor histórico de Pedro e o guardião especial da graça de
Deus na igreja.
A alegação é insustentável. A
primazia de Pedro entre os apóstolos não passou de uma clara liderança no
período da primeira missão cristã. Ele claramente recuou para um segundo plano
à medida que a igreja avançou fora de Jerusalém, sendo Paulo nomeado para
liderar a missão fora de Jerusalém e quando João lutava para corrigir as
igrejas prejudicadas pelos falsos mestres. É bem significante que Pedro não
apareceu no papel principal no Concílio de Jerusalém (At 15), e que ficou
claramente à sombra de Paulo no incidente registrado em Gálatas2.
Roma alega ainda que esta suposta
supremacia de Pedro deveria continuar para a salvação eterna e bem contínuo da
igreja. Nenhum dos versículos citados como apoio escriturístico (Mt 16.18s; Jo
21.15-17 e Lc 22.32) faz qualquer referência a um sucessor de Pedro. Essas duas
reivindicações romanas contrariam a evidência manifesta no Novo Testamento, e a
terceira, de que a primazia de Pedro se estende ao bispo de Roma, é ainda menos
digna de crédito. O fato de Pedro ter terminado sua vida como mártir em Roma é
uma tradição primitiva que encontra apoio razoável; as dificuldades históricas,
porém, para mostrar que houve uma sucessão estabelecida de bispos monárquicos
de Roma, a partir do primeiro século, são intransponíveis.
A sucessão apostólica é na verdade a
sucessão do evangelho apostólico, quando o depósito original de verdade
apostólica é passado de uma para outra geração: "homens fiéis... para
instruir a outros" (2 Tm 2.2). A igreja é apostólica à medida que
reconhece na prática a autoridade suprema das escrituras apostólicas.
CATÓLICA
O
termo católico significa literalmente abrangendo ao todo. E em seu uso
primitivo, significava ser a igreja universal, distinguindo-a da local; mais
tarde, veio significar a igreja que professava a fé ortodoxa, em contraste com
os hereges. Com o passar do tempo, Roma adotou o termo para referir-se a si
mesma como instituição eclesiástica, centrada no papado, historicamente
desenvolvida e geograficamente difundida. Os reformadores do século dezesseis
procuraram restaurar o significado anterior da catolicidade, em termos do
reconhecimento da fé ortodoxa; nesse sentido, argumentavam eles, a igreja
católica era de fato eles e não Roma.
O principal aspecto da catolicidade da
igreja primitiva estava na sua abertura para todos. Distinta do judaísmo, com
seu exclusivismo racial, e do gnosticismo, com seu exclusivismo cultural e
intelectual, a igreja abriu seus braços a todos que quisessem ouvir a mensagem
e aceitar seu salvador, sem levar em conta cor, raça, posição social,
capacidade intelectual e antecedentes morais. Ela surgiu no mundo como uma fé
para todos (Mt 28.19; Ap 7.9). A única exigência para admissão era a fé pessoal em
Jesus Cristo como Salvador e Senhor, com o batismo como o rito autorizado
de entrada, porque manifestava o evangelho da graça (Mt 28.19; At 2.38,41).
É neste nível fundamental que esta
característica (a de ser católica) deve ser entendida. As igrejas que exigem
outros testes devem ser consideradas como suspeitas.
Não existe lugar numa verdadeira igreja
para a discriminação de qualquer tipo, seja racial, de cor, social, intelectual
ou moral, neste último caso desde que haja evidência de verdadeiro
arrependimento. A discriminação denominacional também precisa ser examinada com
cuidado nos casos em que as doutrinas fundamentais bíblicas sejam claramente
reconhecidas.
UMA
A unidade da igreja procede de seu
fundamento do único Deus (Ef 4.1-6). Todos os que pertencem verdadeiramente à
igreja são um só povo e, portanto, a igreja verdadeira será distinguida por sua
unidade. Esta unidade, porém, não implica necessariamente uniformidade total.
Na igreja do Novo Testamento havia uma variedade de ministérios (1 Co 12.4-6) e
de opiniões sobre assuntos de importância secundária (Rm 14:1-15:13). Embora
houvesse uniformidade nas convicções teológicas básicas (1 Co 15.11, BLH; Jd
3), a fé comum recebia ênfases diversas, segundo as diferentes necessidades
percebidas pelos apóstolos (Rm 3.20; cf. Tg 2.24; Fp 2.5-7; cf. Cl 2.9s). Havia
também uma variedade de formas de adoração. O tipo de culto em Corinto (1 Co
14.26ss) não era comum nas igrejas palestinas, onde a adoração se baseava no
modelo da sinagoga judaica e tinha um padrão mais formal, centrado na exposição
da palavra escrita. Este modelo tirado da sinagoga justifica o fato de as
igrejas do primeiro século serem consideradas um ramo do judaísmo. Tiago 2.2
usa até mesmo a palavra sinagoga para a reunião dos cristãos. Existem também elementos
discerníveis de mais de uma forma de governo da igreja.
A verdadeira unidade no Espírito Santo
de todo o povo regenerado é um fato independente da desunião denominacional
exterior. O chamado para a unidade no Novo Testamento é, portanto, uma ordem
para manter a unicidade fundamental da vida que o Espírito concedeu através da
regeneração (Ef 4.3). Os Reformadores salientaram este ponto, distinguindo
entre a igreja invisível (todos os eleitos que são verdadeiramente um em
Cristo) e a igreja visível (um grupo misto de regenerados e não-regenerados). A
unidade da igreja invisível é um fato consumado, concedido com a salvação.
Roma tem usado este sinal de maneira
polêmica, a fim de proclamar sua unidade, comparando-a à fragmentação do
protestantismo, como uma evidência de ser a verdadeira igreja. Isto, no
entanto, ignora três pontos: (i) A própria Roma separou-se da igreja ortodoxa
em 1054, e jamais tinha sido considerada universalmente como a única igreja
verdadeira em séculos anteriores; por exemplo, a igreja celta floresceu na
Inglaterra, e Patrício fundou a igreja inglesa muito antes de os missionários
romanos terem chegado a Inglaterra. (ii). Os sinais devem manter-se juntos. A
sucessão histórica e a unidade exterior não têm validade quando não associadas
à lealdade e ao evangelho apostólico. (iii). Embora o protestantismo tenha-se
mostrado às vezes necessariamente desagregador, pode ser argumentado que,
através de seu desvio da doutrina bíblica, é a própria Roma que tem sido a
maior causa de cismas no correr dos séculos.
As Escrituras encorajam a mais plena
expressão de unidade possível entre o povo de Deus, mas elas também tornam
claro que a divisão se acha perfeitamente de acordo com a vontade divina quando
a essência do Cristianismo Apostólico estiver em risco. Esta foi a
razão da discórdia entre Paulo e os judaizantes (Gl 1.6-12), e entre Jesus e os
fariseus (Mc 7.1-13). É significativo notar que quando Judas pretendeu escrever
sobre a salvação que temos em comum, ele achou necessário insistir com os leitores
para "batalhar diligentemente pela fé que uma vez foi entregue aos
santos" (Judas 3). Para o Novo Testamento, a unidade está baseada em um
compromisso consciente com as verdades reveladas do Cristianismo Apostólico.
O Novo Testamento dirigiu seus ensinos
sobre a unidade a grupos específicos, com implicações imediatas para seus
relacionamentos visíveis (Ef 2.15; 4.4; Cl 3.15). Jesus orou pela unidade, que
ajudaria o mundo a crer (João 17.21); embora o paralelo entre esta unidade e a
dEle com o Pai (17.11,22) confirme o caráter essencialmente espiritual da
unidade bíblica, esta certamente inclui identificação visível de vida e
propósito, pois Jesus em toda a sua missão expressou uma união visível e
demonstrável com o Pai. Em outras palavras, é preciso buscar uma unidade
visível mais plena do que aquela que está sendo experimentada pelos que são
fiéis ao evangelho apostólico. Este fato tem especial importância quando dois
ou mais grupos que têm uma fé bíblica estiverem operando na mesma área, como,
por exemplo, em um campus universitário. O desafio mais profundo deste
ensinamento, porém, situa-se ao nível dos relacionamentos na igreja local.
Nesse ambiente, a unidade da vida em Cristo deve expressar-se através do
cuidado e compromisso genuínos e tangíveis de uns para com os outros. Na
ausência disto, a reivindicação de ser uma verdadeira igreja cristã é posta em
dúvida (1 Co 3.3s).
SANTA
O povo de Deus forma a nação santa (1
Pe 2.9). No sentido mais profundo a igreja é santa, da mesma forma que todo
indivíduo cristão é santo em virtude de estar unido a Cristo, separado para ele
e revestido com sua justiça perfeita. Na sua posição diante de Deus em Cristo,
a igreja é irrepreensível e isenta de qualquer mancha moral. A distinção entre
a igreja visível e a invisível aplica-se aqui, desde que esta santidade
imputada não pertence aos membros da igreja não confiam pessoalmente em Cristo
como Salvador.
A união com Cristo envolve também uma
santidade de vida que seja visível. Desse modo, a relação da igreja com Cristo,
o seu cabeça, será expressa no caráter moral e nas características especiais de
sua vida e de seus relacionamentos comunitários. A igreja alheia à santidade é
alheia a Cristo. Quando Cristo dirigiu-se à sua igreja, ele esperava dela essa
mesma diferença moral e foi severo em seu julgamento quando observou que ela
lhes faltava (Ap 2.-3). A fim de não desanimarmos ao aplicar este teste, vale a
pena lembrar que grande parte da vida da igreja do Novo Testamento foi eivada
de erros, divisões, falhas morais e instabilidade. Não obstante, a presença de
um sinal visível de santidade é uma característica invariável da igreja de
Deus.
CONCLUSÃO
É urgente e premente uma reflexão
quanto relevância e a atuação da igreja no mundo da globalização.
Sejamos igreja. Corpo vivo de Cristo.
Submissos a ordem do Mestre e consciente da brevidade do tempo para a salvação.
Sejamos igreja que festeja a vitória de Cristo na Cruz e que é contristada pela
consciência de pecado. Sejamos igreja santa e poderosa na evangelização para
que desfrutemos do perdão, do amor e da comunhão íntima, expressão inconteste
da nossa reconciliação com Deus em Cristo Jesus.
A meta da igreja consiste em chegar a
ser como Cristo, compartilhar as Boas da salvação gratuita que Deus nos oferece,
fazer discípulos, ajudar uns aos outros mutuamente e preservar-se fielmente na
obediência até a sua volta.
Portanto ide, fazei discípulos de
todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os
a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou
convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Mateus 28;19-20
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA
KEELEY, Robin; ENGLISH, Donald: Fundamentos
da Teologia Cristã. . São Paulo: Ed Vida, 2000
MILNE, Bruce. Manual de doutrina
Bíblica. In: Conheça a verdade. São Paulo:
ABU Editora, 1987.
STANLEY, J Grenz. Dicionário de
teologia. Edição de bolso. São Paulo: Ed. Vida. 2000
GILPATRICK, Teston. A
missão de Deus. São Paulo: Editora Vida Cristã, 1983.
1 Para os pentecostais a igreja
iniciou no dia de pentecostes, para nós os Metodistas a igreja começou com o
ministério de Jesus.
2 Stanley J Grenz, Professor de
teologia e ética na Universidade Carey Hall / Regente em Vancouver, British
Columbia No Canadá. Doutorado em teologia pelo King’s college,
Universidade de Londres.
Área do estudo teológico interessado
em entender a igreja (derivado do termo grego ekklêsia, “igreja”)
3 Igreja Universal no sentido de
Mundial , não expressando aqui uma denominação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário